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1quanto os moradores do Distrito Federal buscam maneiras de contornar o racionamento de água, motivado pela maior crise hídrica da história do Planalto Central, órgãos públicos com sede na capital do país aproveitam para gastar mais. Em vez de darem o exemplo, os prédios ampliaram o consumo de água desde novembro, quando os reservatórios atingiram nível crítico, aponta balanço exclusivo feito pelo G1.

A lista de “maus exemplos” é encabeçada por órgãos como o Ministério do Meio Ambiente e o Supremo Tribunal Federal. O Palácio da Alvorada – residência oficial da Presidência da República – e a Câmara dos Deputados também aumentaram o gasto de água. (veja bons exemplos no decorrer da reportagem).

Um dos casos mais emblemáticos ocorre justamente na pasta do governo federal responsável por gerenciar, dentre outras coisas, os recursos hídricos do país. No Ministério do Meio Ambiente, o gasto subiu 18% de novembro a dezembro de 2016, e continuou subindo em janeiro.

Em nota, a direção do ministério disse que o gasto subiu por causa da falta de chuvas, que “estimulou um maior consumo de água” dos funcionários, e que 106 novos servidores passaram a trabalhar no prédio em dezembro.

Outro exemplo negativo vem do STF. O gasto hídrico do edifício sede saltou em 41,26% entre dezembro e janeiro, segundo dados fornecidos pelo Supremo ao G1. A instância máxima do Judiciário credita a explosão de gastos ao recesso do Judiciário, em dezembro, e diz que o consumo médio de água caiu 7% entre 2015 e 2016.

O recesso do Judiciário, usado pelo Supremo para justificar essa discrepância entre dezembro e janeiro, na verdade se estendeu ao longo desses dois meses. A última sessão de julgamentos de 2016 foi no dia 19 de dezembro, e a primeira de 2017, em 1º de fevereiro. Nesse período, funcionários e ministros continuaram despachando nos gabinetes, o que não explica a escalada de gastos em janeiro.

Na Caesb, o aumento de gastos com água entre dezembro e janeiro foi de 16,56%. Neste período, a empresa se preparava para dar início ao racionamento de água em todas as regiões abastecidas pela bacia do Descoberto – o maior reservatório da capital, e também, o mais atingido pela crise. Até agosto, a Caesb sequer tinha dados sobre o próprio consumo.

Em nota, a Caesb atribuiu o aumento à “lavagem dos reservatórios” que teria sido realizada em janeiro. Isso significa que, no mês em que 60% da população da capital foi submetida a um racionamento de água sem prazo definido, a companhia usou litros e mais litros de água para lavar as próprias caixas. A Caesb informou ainda que adota medidas para diminuir o consumo hídrico, como aproveitamento da água da chuva para limpeza e irrigação.

No Palácio da Alvorada, a comparação anual mostra que o consumo de água subiu muito nos últimos dois anos. A elevação chegou a 64,18% entre os anos de 2015 e 2016. A gestão atual do prédio diz que adotou medidas para reduzir o consumo de água “após a mudança de governo”, em setembro do ano passado. O governo também afirma que vai fazer mudanças no sistema de manutenção, e modernizar hidrômetros e aparelhos sanitários.

Entre novembro e dezembro, quando a população já estava em alerta e o Palácio do Buriti preparava as regras do racionamento, o consumo de água nas dependências da Câmara subiu 23%. Em nota, a Casa não explicou o motivo do aumento, mas disse que registrou, em 2016, um dos menores consumos de sua série histórica.

Empecílio à economia

O professor da UnB especialista em recursos hídricos Sérgio Koide explicou que a burocracia imposta à gestão pública impede que órgãos consigam poupar de forma mais eficiente a água.

“Até obras simples para otimizar a economia são barradas por conta da burocratização. A burocracia era para resolver o problema da corrupção, que não resolveu, e acabou virando um impedimento para mais economia”, afirmou.

Por conta destes entraves, o professor acredita que a população não pode “esperar que deem o exemplo”. “Se você ficar esperando os prédios públicos, você vai enfrentar a crise sem atitude. Sem fazer nada.”

Bons exemplos

Durante a elaboração da reportagem, o G1 também encontrou prédios públicos que conseguiram reduzir expressivamente o consumo de água. O que obteve uma melhor eficiência na contenção dos gastos foi o Palácio do Planalto, que diminui o consumo em 73%, entre novembro e dezembro.

Questionado, o Planalto diz ter adotado uma série de mudanças de atitude para reduzir o consumo. Os funcionários reduziram a irrigação do gramado e também a frequência de limpeza do espelho d’água, de acordo com a nota.

Sede do Poder Executivo do DF, o Palácio do Buriti também diminuiu significativamente o consumo de água durante o período de crise hídrica na capital. Na comparação de novembro e dezembro de 2016 com o mesmo período de 2015, o consumo foi reduzido em 67,3%.

Na outra ponta do centro de Brasília, a Procuradoria-Geral da República também conseguiu poupar água – entre novembro e dezembro 2016, a queda foi de 15%.

Entre os órgãos questionados pelo G1, o Senado Federal foi o único a não apresentar o relatório completo de consumo hídrico. No início de março, a direção-geral da Casa informou que as contas de dezembro, janeiro e fevereiro ainda não tinham sido fechadas.

*G1

Redação


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