Se for implementada, a tarifa de contingência de até 40% sobre a conta de água vai poupar pelo menos 292,8 mil imóveis do Distrito Federal – o equivalente a 45,76% dos consumidores da Caesb –, que consumem menos de 10 mil litros de água por mês. O volume é suficiente para abastecer uma família de quatro habitantes, em média. Pelas regras, só esse grupo e centros de saúde, como hospitais e hemocentros, ficam liberados da taxa extra.
Ao G1, a Caesb informou que 83% do consumo do DF vêm de pessoas físicas, que utilizam 13,5 bilhões de litros por mês. O comércio responde por 9% do consumo do DF, que escoa cerca de 1,5 milhão de litros d’água mensais. A indústria é responsável por 0,44% da água consumida – 72 milhões de litros por mês.
A Adasa estima que a tarifa comece a ser cobrada daqui a duas semanas, se o nível de consumo se mantiver. Até esta terça (11), o reservatório do Descoberto estava com volume útil de 29,37%, e o de Santa Maria, 45,28%. Os reservatórios são responsáveis por abastecer 85% da população do DF.
De acordo com as regras, famílias de baixa renda que consumirem acima dos 10 mil litros mensais estarão sujeitas a um reajuste menor – 20%, em vez dos 40% que se aplicam ao restante da população. O mesmo desconto vale para todos os comércios e indústrias, independentemente do porte. De acordo com a Adasa, a tarifa de contingência é necessária para forçar a redução do consumo porque o DF entrou em “situação crítica” .

Contraste
O cenário de crise hídrica vivido pelo DF ao longo das últimas semanas contrasta com atitudes tomadas pelo próprio governo no início do ano. Em março, no fim da temporada de chuvas, gestores chegaram a comemorar o transbordamento da barragem do Rio Descoberto – na última sexta (30), o nível da água chegou a 33,82%, o mais baixo dos últimos 30 anos.
A barragem começou a transbordar em 15 de março, após uma sequência de chuvas fortes. Dois dias depois, o governo divulgou entrevista com o gerente do centro de controle da Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), Ulisses Pereira. O texto dizia que o transbordamento “garantia mais conforto aos moradores”.
“O DF não passa por preocupações sobre disponibilidade de água”, dizia Pereira na divulgação do governo. Em 2014 e 2015, a barragem do Descoberto também superou os 100% de armazenamento e verteu água, exigindo a abertura das comportas.
Em outro ponto do DF, no Lago Paranoá, o governo teve que “jogar água fora” em janeiro para manter o equilíbio da barragem. Neste caso, o reservatório não é usado para abastecimento humano, e sim para a geração de energia. As comportas foram abertas em 50 centímetros para escoar o excedente, que foi direcionado à área mais baixa do lago.
O governo tenta construir um sistema de captação para até 600 mil pessoas no Lago Paranoá, com nove reservatórios, mas as obras ainda não começaram. A ideia é captar, logo na estreia, 2,1 mil litros por segundo. Para comparação, a vazão do Descoberto é pouco superior a 5 mil litros por segundo.