Dez dias após a primeira fase da operação que afastou a Mesa Diretora da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o Ministério Público e a Polícia Civil continuam trabalhando com a possibilidade de provas terem sido destruídas ou ocultadas. A Polícia Legislativa chegou a negar que computadores tenham sido retirados da Casa. Mesmo assim, os investigadores afirmaram nesta sexta-feira (2) que a segunda fase da operação Drácon foi motivada por essa suspeita.
Pela manhã, a Polícia Civil apreendeu documentos e computadores em gabinetes de membros afastados da Mesa Diretora e na própria direção da Câmara. O objetivo é apurar se receber propina em troca de liberação de verbas de emendas parlamentares destinadas a empresas que prestam serviços de UTI.
“Alguém que se sente na audácia de subtrair provas está sujeito a ser preso”, afirmou o promotor Clayton Germano, à frente das investigações. Ele disse que não poderia informar se de fato algum documento ou eletrônico estava “faltando” porque poderia atrapalhar as investigações, em sigilo.
O promotor também não adiantou se alguma das seis empresas beneficiadas nas emendas investigadas procurou o MP para firmar acordo de leniência – espécie de delação premiada.
Delegado responsável pelo caso, Alexandre Linhares disse que as investigações “têm muita sensibilidade”. “O que aparenta ser legal não quer dizer que é legal. O que estamos fazendo agora é se debruçar em cima do material coletado”, declarou o delegado.
No dia da primeira fase da operação Drácon, em 22 de agosto, o deputado Chico Vigilante (PT) afirmou que um assessor da presidente afastada, Celina Leão (PPS), tinha sido visto colocando computadores em seu carro pessoal na garagem da Câmara Legislativa. Segundo ele, a denúncia foi feita por um servidor da Casa que pediu anonimato.

“Por oportuno, informo que foram, também, vistoriados pelos peritos criminais, os livros de controle de entrada e saída de materiais feitos pelo serviço de vigilância, não sendo constatado nenhum registro”, diz um memorando da Polícia Legislativa. O documento é endereçado ao secretário-geral da Câmara, José Wilson Porto.
Por causa das suspeitas, o assessor de Celina apontado como responsável por ter levado computadores da Câmara na véspera da operação, Sandro Vieira, foi exonerado do cargo de secretário legislativo. Ele passa a exercer o “cargo especial de gabinete”. Com isso, o salário dele cai de R$ 11,9 mil para R$ 6,6 mil. O G1 não conseguiu contato com Vieira.
Segunda fase
Os policiais civis começaram as buscas no local por volta das 6h. A Polícia Civil tentou acesso a filmagens e gravações de sessões plenárias da Casa de 2015, mas, segundo a assessoria da Câmara Legislativa, não havia material disponível.
Presidente em exercício da Câmara Legislativa, o deputado Juarezão (PSB) disse que os policiais tinham restringido o acesso à Casa. “É claro que cria um constrangimento, mas tem que deixar fazer a operação.”
A ação foi motivada pelas denúncias da deputada Liliane Roriz (PTB) de que a presidente da Câmara, Celina Leão (PPS), articulou um esquema de pagamento de propina e desvio de recursos de emendas parlamentares que seriam usados para pagar contratos de gestão de UTIs.

Os principais alvos da operação policial são os membros afastados da Mesa Diretora: Celina Leão, o primeiro-secretário, Raimundo Ribeiro (PPS), o segundo, Júlio César (PRB), e o terceiro, Bispo Renato Andrade (PR). Também é alvo o deputado Cristiano Araújo (PSD), suspeito de articular o esquema de recebimento de propina. Todos negam envolvimento com irregularidades. Também foi alvo o computador do servidor que redigiu a emenda investigada.
Nos áudios feitos por Liliane, Celina fala sobre mudança de finalidade de uma emenda parlamentar que direcionou R$ 30 milhões da sobra orçamentária da Câmara a um grupo de seis empresas que prestam serviço de UTI. Segundo as denúncias, parte dos recursos foram repassados a deputados da Mesa Diretora.